A sociedade secreta que mais mexe com a imaginação das
pessoas é, sem dúvida nenhuma, a dos Templários. Não apenas pela imagem
incrível transmitida por livros como O Código Da Vinci e O Último Templário,
mas também pelos inúmeros estudos que mostram aspectos desconhecidos desse que
já foi o grupo mais influente e poderoso da Igreja Católica.
O que mais intriga as pessoas é saber, afinal de contas, se
os Templários acabaram mesmo, ou se transformaram-se em algo diferente. É fácil
conhecer um ou outro componente da Maçonaria, ou da Rosacruz, mas poucos são os
que se dizem neo-templários, ou novos templários. A julgar pela grande
quantidade de grupos que se apresentam como tal na Internet, fica difícil
rastrear com precisão o verdadeiro herdeiro dos cavaleiros da Idade Média que
lutaram nas Cruzadas. Ainda por cima, há o fator miscigenação, já visto no caso
da Rosacruz. Os Templários, assombrados pela acusação de heresia oriunda da
Igreja Católica, sob influência do rei francês Felipe IV, o Belo, teriam se
misturado aos maçons, tornando-se um grau dentro da hierarquia da Maçonaria.
Historicamente falando, só temos certeza da transmutação dos
Templários na Ordem de Cristo, ocorrida em Portugal, sobre a qual falaremos
mais adiante. Os demais grupos, que se apresentam como "os verdadeiros
depositários do conhecimento templário", como se autodefinem, necessitam
ainda de aval histórico para comprovar a afiliação.
Enquanto isso, os pesquisadores prosseguem em seus esforços
para avaliar o que teria acontecido com os Templários, após os fatídicos
acontecimentos de 13 de outubro de 1307. A tradição europeia afirma que a
superstição sobre a sexta-feira 13 ser um dia de azar vem do fato desse ter
sido o dia em que os Templários foram presos e, mais tarde, condenados à
fogueira. Muitos discordam dessa suposta origem, mas a fama dos cavaleiros
garantiu a associação com o termo e, até mesmo, com certas magias protetoras
contra os maus fluidos desse dia, que também teriam origem no chamado esoterismo
templário; embora muitos aleguem que tais artifícios nunca funcionaram para
salvar os próprios Templários de seu destino.
Origens
As Ordens de Cavalaria da Idade Média sempre fizeram um
certo sucesso entre as pessoas comuns. Em plena guerra contra os sarracenos
(hoje conhecidos como muçulmanos), muitos desses grupos ganharam fama e
sucesso, como os Cavaleiros Hospitalários (do Hospital de São João) e os
Cavaleiros Teutônicos, de origem germânica. Porém, nenhum deles atingiu o nível
de fama e fortuna que arrebatou a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do
Templo de Salomão, cujo nome em latim é Pauperes Commilitones Christi Templique
Solomonici. O grupo foi fundado por volta de 1096, pouco depois da Primeira
Cruzada, e existiu por mais de dois séculos na Idade Média. Seu objetivo
principal era proteger os peregrinos que vinham do continente europeu dispostos
a fazer a peregrinação para Jerusalém por rotas que, invariavelmente, acabavam
em saques e morte nas mãos de sarracenos. Até que ponto isso era realmente o
que acontecia ninguém sabe, mas sim, essa era a finalidade inicial dessa ordem.
Apesar de ter o início de suas atividades nessa época, a
Ordem só ganhou o reconhecimento da Igreja Católica por volta de 1127, no
Concílio de Troyes, com o Papa Honório II. Como seus membros passavam a imagem
de homens piedosos, de vida monástica, e eram capazes de entrar numa batalha
com ferocidade impressionante, a ponto de ter como uma de suas regras nunca
abandonar o campo de batalha, os Templários cresceram rapidamente em número de
membros e em poder. O cavaleiro dessa Ordem era facilmente reconhecido por suas
túnicas brancas adornadas com a cruz vermelha, de comprimento e largura iguais.
Seus membros eram respeitados e, por vezes, temidos, pois se entregavam a uma
rotina de preparação fora das batalhas, na qual as vidas religiosa e militar se
misturavam de maneira complementar.
O que tanto chamou a atenção dos nobres e reis foi a maneira
como eles conseguiram acumular uma vasta infraestrutura, que incluía grandes
propriedades e muito dinheiro. Os Templários também criaram o embrião dos
travellers cheques: negociavam cartas de crédito com o peregrino que ia
realizar uma viagem, e essa carta poderia ser convertida em dinheiro em
qualquer estabelecimento da Ordem, num artifício parecido com o das atividades
bancárias modernas. Apesar da riqueza que aumentava em seus cofres, a Ordem
mantinha como símbolo a imagem de dois cavaleiros montados no mesmo cavalo, um
sinal de pobreza.
Com o passar do tempo, a Ordem aperfeiçoou sua estrutura
hierárquica, desenvolvendo-a de simples sacerdotes e serventes até os soldados
que combatiam nos conflitos. A essa altura, não havia apenas religiosos entre
seus componentes, mas também burgueses, e dinheiro para se sustentar não
faltava, principalmente pela receita oriunda de doações dos reinos. A Ordem já
tinha seus objetivos ampliados: além da proteção aos peregrinos, seus membros
recebiam treinamento bélico, combatiam ao lado dos demais cruzados envolvidos
nos conflitos na Terra Santa, conquistavam terras, administravam povoados
inteiros, extraíam minérios, erguiam suntuosos castelos, que existem até hoje catedrais,
moinhos, aloja mentos e oficinas, fiscalizavam o cumprimento das leis e
intervinham na política europeia. Afinal, eles deviam explicações apenas ao
Papa, e a mais ninguém, o que significava total autonomia em seus negócios.
Não demorou muito para que a monarquia e o clero notassem
que o poder templário crescia a olhos vistos. Muitos monarcas, de fato, faziam
empréstimos com eles, tornando-se subordinados a seus ditames, enquanto suas
dívidas não eram pagas.
A boa vida começaria a mudar com a reviravolta da situação
na Terra Santa. Os muçulmanos começaram a conquistar vários reinos cristãos no
local. Quando a cidade de Acre caiu, no século XIII, os cavaleiros tão temidos
viram-se obrigados a abandonar suas posições no local, migrando para a Ilha de
Chipre, na qual se estabeleceram. Essas perdas começaram a reverter a situação,
e a confiança do próprio povo, que antes os idolatravam. Os Templários começaram
a ser acusados de riqueza excessiva e ambição: eles teriam deixado o desejo de
riqueza atrapalhar a defesa dos interesses cristãos. Logo, a existência de uma
Ordem como a deles já não se fazia necessária.
O fim da ordem social.
Foi quando entrou em cena Felipe IV, o Belo. Ao contrário da
maioria dos regentes, Felipe estava acostumado a realizar campanhas militares
aliadas ao clero em troca de benefícios políticos. Ele devia terras e grandes
somas de dinheiro aos Templários. Como suas dívidas cresciam, e ele não
conseguia saldá-las, propôs ao arcebispo Beltran de Got uma troca de favores. O
monarca usaria sua influência para eleger o religioso Papa, e este, por sua
vez, acabaria com os Templários assim que assumisse seu novo cargo.
Assim, em 1305, Beltran assumiu como Papa Clemente V.
Começou, então, o processo contra os Templários. Após a prisão em massa de
membros da Ordem, ocorrida durante a fatídica sexta-feira 13 já citada, os
cavaleiros foram trancados em prisões e perseguidos em quase todos os reinos
cristãos. As acusações variavam: de heresia a idolatria, de homossexualismo a
conspiração com infiéis. Na França, cerca de cinco mil cavaleiros, juntamente
com seu Grão-mestre Jacques de Molay, fo ram presos e torturados para terem
suas confissões arrancadas à força. Apesar de outros países, como a Alemanha,
declararem os Templários inocentes, a Ordem foi suprimida. Em Portugal, Espanha
e até na Escócia os regentes não se convenceram da suposta culpa dos
Templários, o que causou curiosas transformações, das quais tratarei em breve.
Muitos Templários presos confessaram, e receberiam
absolvição por seus supostos pecados, desde que mudassem de Ordem, indo para os
Hospitalários, ou outras ordens de cavalaria. Porém, aqueles que se retratavam
(ou seja, confessavam e depois afirmavam que o que haviam dito era mentira)
eram condenados como hereges reincidentes e condenados à fogueira. Foi o que
aconteceu com Jacques de Molay e outros dirigentes. Assim, em 18 de março de
1314, eles foram queimados sob o olhar do Papa Clemente V e do rei Felipe IV, o
Belo, nas margens do Rio Sena, em Paris. Há uma lenda que diz que Molay
amaldiçoou o Papa e o rei pela injustiça: o papa morreria no máximo em 40 dias
e o rei, em um ano. Aparentemente, a maldição funcionou, pois Clemente V morreu
exatos 33 dias depois, e Felipe, em pouco mais de seis meses.
Por toda a Europa, a Ordem foi oficialmente extinta. Seus
bens e estrutura foram repartidos entre outras ordens menores. A vasta riqueza
dos Templários, bem como sua vasta frota de navios, simplesmente desapareceu sem deixar traços, o que levou
muitos pesquisadores a especularem sobre o paradeiro desses bens. Até hoje há
quem venha com hipóteses malucas, como a suposta viagem dos Templários ao Novo
Continente e a ocultação do tesouro templário em poços escondidos em ilhas no
que hoje é o vasto território dos Estados Unidos.
O fato é que, historicamente, nunca se descobriu o que teria
acontecido com os navios templários, nem com o verdadeiro paradeiro de seu
vasto tesouro.
Os Templários e a Ordem de Cristo
Em Portugal, os Templários não foram considerados culpados,
mas, graças às pressões do Papa, foi-lhes imposta uma condição: que mudassem de
nome. Assim, eles constituíram uma nova Ordem, que se chamou Cavaleiros de
Cristo. Qualquer reprodução das caravelas de Pedro Álvares Cabral, por exemplo,
indica que as velas das embarcações eram pintadas com a cruz símbolo dos
Templários, e agora símbolo da nova Ordem.
O terreno para a criação dessa nova Ordem já se fazia sentir
muito antes do processo deflagrado na França. Afinal, durante os séculos XII e
XIII, foram os Templários que ajudaram os portugueses nas batalhas contra os
muçulmanos. Como recompensa, eles receberam extensos domínios de terra e poder
político. Os castelos, igrejas e povoados sob proteção templária prosperaram
como nunca. Quando o processo contra a Ordem foi estabelecido, o rei de
Portugal, Dom Dinis, logo concordou em transferir para a nova Ordem as mesmas
propriedades e privilégios dos Templários.
Para muitos pesquisadores, a mudança deu-se apenas para que
não fosse mais usado o nome Templários; no mais, ficou tudo na mesma. O hábito
e a insígnia eram os mesmos, com apenas algumas modificações leves.
Herdeiros dos Templários
Um dos pontos mais difíceis de se obter é a exata
determinação de quem é o verdadeiro grupo herdeiro dos conhecimentos
templários. Não se pode esquecer que, para muitas pessoas da época -
principalmente quando os Templários perderam o poder sobre os reinos cristãos
na Terra Santa -, a vivência com os muçulmanos (há relatos de Templários
mantidos capturados por meses) poderia ter colocado os cavaleiros em contato
com conhecimentos milenares, argumento conveniente para a base das acusações de
bruxaria e adorações de ídolos barbados.
O fato de o arquivo central dos Templários, na sede da Ilha
de Chipre, ter sido destruído por ataques de otomanos provocou o surgimento de
diversas lendas, nas quais, hoje em dia, muitos grupos se inspiram para se
apresentarem como os "verdadeiros Templários".
Muitos historiadores acreditam que os cavaleiros, de fato,
separaram-se quando o processo na França começou. Como já foi dito, um dos
prováveis refúgios foi a Escócia, por sua distância e pelo fato de que seu
regente estava em conflito com a Igreja. Curiosamente, há registro apenas de
dois templários presos naquela época, e ambos eram ingleses. Embora os
cavaleiros estivessem em território seguro, sempre havia o medo de serem
descobertos e tidos novamente como traidores. Por isso, teriam se valido de
seus conhecimentos de arquitetura sagrada, assumindo um novo papel dentro da
Maçonaria.
A junção entre Maçonaria e Templários parece, de fato, fazer
sentido, se analisarmos a necessidade que eles tinham em partilhar
conhecimentos. Basta conferir uma lista de castelos templários para entender
que havia motivos para as duas sociedades secretas se aproximarem,
principalmente pelo interesse na arte da construção.
É claro que não há como comprovar isso, portanto, nesse
quesito, só podemos especular. Mas, a julgar pelo modo como os hábitos dos
Cavaleiros Templários da Maçonaria é constituído, podemos ter um vislumbre da
verdade.
Esoterismo Templário
Cifras templárias já foram descobertas por pesquisadores,
que afirmam que elas eram usadas para guardar os segredos dos registros
financeiros da Ordem. Em vários castelos ligados aos cavaleiros, essas mesmas
cifras podem ser vistas em garranchos escritos nas paredes. Tal fato pode não
ter muita conexão esotérica, mas é uma prova de que eles possuíam seus próprios
códigos de comunicação.
Falar em esoterismo é arriscar tratar de algo que não possui
nenhum tipo de registro oficial. O contato que eles tiveram com o inimigo
sarraceno pode muito bem ter lhes proporcionado uma espécie de ligação com uma
filosofia influenciada pela sabedoria oriental, o que não chega a ser uma
heresia.
Especulações também afirmam que a fundação da Ordem teria
sido articulada por Bernardo de Claraval (conhecido como São Bernardo) para
encontrar a Arca da Aliança e as Tábuas das Leis Divinas, ocultas em algum
lugar nos recônditos escombros do que restou do Templo de Salomão. Assim que
tais relíquias foram encontradas, os Templários começaram a se desenvolver de
maneira rápida e poderosa. A ligação deles com o Santo Graal, tão alardeada por
livros como O Código Da Vinci, nada mais seria do que uma metáfora para se
referir a essas verdadeiras "caças ao tesouro esotérico".
No mais, a maioria das acusações do processo francês contra
a Ordem seriam especulações, incluindo a famosa ligação deles com o ídolo
barbudo conhecido como Baphomet, nome tido como uma possível corruptela do nome
Maomé.
Se acreditarmos nas ligações maçônicas e/ou rosacrucianas,
veremos que muito do chamado esoterismo templário tem a ver com técnicas de
meditação orientais, ligadas ao Budismo e ao Bramanismo, e não com
conhecimentos extraídos de povos árabes. Porém, como vimos no capítulo sobre a
Rosacruz, viagens ao Oriente sempre foram consideradas buscas por fontes de
conhecimentos arcanos. Por isso, não é de se estranhar que muito do que os
inquisidores pensavam ser "ligação com o demônio" poderia não passar
de fanatismos de um catolicismo radical, comum na época.
Sem contar que a maioria das acusações contra os Templários
foi formulada pelos cúmplices do rei Felipe IV, o Belo, e obtida sob influência
de tortura. Assim, quando ouvimos por aí acusações voltadas contra eles, como
cuspir e andar sobre a cruz, trocar beijos obscenos no umbigo e nas nádegas,
negar a divindade de Cristo, ou beijar o traseiro de um gato, é mais provável
que elas não encontrem respaldo real; muito menos indiquem que os cavaleiros
estivessem envolvidos com qualquer tipo de prática esotérica.
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