Existem sociedades que, antes de aparecerem, ninguém fazia
ideia de que pudessem de fato existir. Neste tópico, vamos falar de uma que,
embora pertença à classe de sociedades secretas políticas, também foi alvo
constante da curiosidade mundana.
Se um grupo de estudantes de Yale preparados para os cargos
mais altos da política e finanças mundiais devido ao uso da influência e do
dinheiro de seus pais já é algo que faz a imaginação voar (ver Skull and Bones),
imagine agora um clube fechado, ao qual ninguém tem acesso. Em termos mais
práticos, uma conferência anual não-oficial, na qual os convidados (ou seriam
membros?) são restritos a um número de 130 pessoas. E, detalhe: não é qualquer
um que participa desse encontro, mas apenas pessoas com alguma influência nas
esferas de poder empresarial, acadêmico, midiático ou político.
Segundo relatos, esse grupo teria sido responsável por
vários fatos aparentemente não ligados entre si, como a ascensão dos Beatles, a
eclosão do Caso Watergate, nos Estados Unidos, e os resultados das últimas eleições
norte-americanas (feito também atribuído aos Skull and Bones). Teria, ainda,
dedo ativo na popularização da Coca-Cola, na ocupação norte-americana do Iraque
e, pasmem, no fato de a Bolsa de Valores ter altas e baixas.
Quem seria esse grupo, exatamente? Mais uma vez, temos de
apelar para a literatura já publicada, uma vez que os artigos de Internet são
cheios de teorias da conspiração, o que os tornam altamente suspeitos e
tendenciosos. O russo residente na Espanha Daniel Estulin, autor de um dos
livros mais completos sobre esse grupo, afirma que eles tentam "criar uma
ordem mundial em que todos, um dia, serão subservientes". E acrescenta: "É
o que eles chamam de Governo do Mundo único. "
Porém, o estudo de Estulin, que levou cerca de 15 anos para
ser finalizado, consegue ir a fundo no que hoje é conhecido como Clube
Bilderberg. Com algumas variações, temos também grafias como Grupo Bilderberg e
Conferência Bilderberg.
A maioria das informações veiculadas sobre esse clube tem
como confirmação o livro de Estulin, que consegue fugir do clima de paranoia
encontrado nos artigos da Internet. O Bilberderg, formado principalmente por
ex-presidentes, dirigentes de empresas multinacionais, banqueiros, megainvestidores
e intelectuais que atuam em diversas áreas, tem como braço principal um
organismo chamado Council on Foreign Relations (Conselho das Relações
Internacionais), cuja sede fica na cidade norte-americana de Nova York. O
escritor diz que os cerca de três mil integrantes do CFR possuem um poder de
proporções extraordinárias, influenciando as ações de diversos segmentos do
governo dos Estados Unidos, entre eles órgãos como a CIA, o FBI e o IRS
(Departamento do Tesouro). Boatos persistentes insistem que o Bilderberg,
inclusive, já teria conquistado um voto de confiança de Barack Obama, o
presidente eleito, e que também andaram falando com John McCain, seu
adversário na disputadíssima campanha eleitoral.
Origens
ontar de maneira sucinta como esse grupo veio a nascer é uma
tarefa hercúlea, mas, mesmo assim, não custa tentar. Relatos dão conta de que o
grupo foi criado há exatos 55 anos, e que seu nome vem do local em que ocorreu
a primeira reunião, em 1954: Hotel de Bilderberg em Oosterbeek, perto de
Arnhemia, na Holanda.
Segundo Estulin, o Clube tinha por objetivo primário
"debater assuntos relevantes e de interesse mundial". Entre seus
membros contam, ainda hoje, todos os presidentes norte-americanos vivos (incluindo
os Bush pai e filho), os dirigentes da Coca-Cola, da Ford, do Banco Mundial, do FMI, da Otan, da OMC, da ONU,
vários primeiros-ministros e até mesmo representantes de várias casas reais
europeias, e dos mais influentes meios de comunicação. Essa lista impressionante
torna-se ainda mais assustadora quando vemos a inclusão de nomes como o
ex-secretário de estado norte-americano Henry Kissinger, e as influentes famílias
Rockefeller e Rotschild. Supostamente, seus membros reúnem-se, passam vários
dias conversando, e não revelam o conteúdo do que foi tratado para
absolutamente ninguém, sob nenhuma circunstância.
É claro que esse segredo acaba por gerar teorias das mais
absurdas, e nunca confirmadas, como a de que eles possuem tamanho potencial que
podem, se quiser, e se lhes for apropriado, provocar crises financeiras em
certos países, apenas para beneficiar um aliado, derrubar e eleger governos,
defender interesses variados, e, até mesmo, provocar guerras. Um exemplo muito
utilizado para corroborar esse argumento é a queda de Slobodan Milosevic,
ex-presidente da Sérvia e da República Federal da Iugolsávia. Ela teria sido
tramada pelo Clube Bilderberg, segundo líderes sérvios. Recentemente há boatos
de que a interferência na Siria também é uma das ações do clube Bildeberg, o
que a ex-deputada síria deixa bem claro no vídeo abaixo (em português; estar no trecho de onze minutos a doze minutos do vídeo.
Em artigo sobre o livro de Estulin, publicado no site do
Terra, e assinado por Denise Mota, temos o seguinte comentário:
"Estulin não se esquiva de
dar a lista completa dos que frequentam ou alguma vez estiveram nos encontros
da dita organização (..). O trabalho foi realizado parcialmente em equipe e com
base em informes e reportagens de outros autores, igualmente indicados
copiosamente em seu documento.”
Devido ao livro, Estulin conta que há muito tempo deixou de
ter uma vida normal e vive 24 horas por dia sob proteção de diversas equipes
formadas por ex-agentes especiais da KGB. As investigações que leva adiante lhe
causaram, ele diz, atentados dignos de James Bond. Em um deles, uma mulher
estonteante num vestido de seda vermelho teria tentado seduzi-lo, sem sucesso,
num quarto de hotel. O objetivo era depois jogar-se pela janela e implicá-lo
num caso de homicídio; Em outro, após se encontrar com um informante, o
jornalista teria percebido a tempo que, do elevador em que estava prestes a
entrar, havia sido retirado o piso.
Esse tipo de informação pode parecer golpe de publicidade,
mas os mais crentes e adeptos de teorias conspiratórias com certeza afirmarão
que se trata de uma reação já esperada. Afinal, se tal sociedade secreta
realmente existe, deveria, no mínimo, atacar aqueles que se propõem a divulgar
sua existência...
A primeira Reunião
No entanto, deixemos de lado, por um instante, o mundo
literário, para nos concentrarmos no Clube. Como teria sido a famosa primeira
reunião? Aparentemente, ela aconteceu entre os dias 29 e 30 de maio de 1954. A iniciativa para sua
realização teria partido de um imigrante polonês e conselheiro político chamado
Joseph Retinger. Tudo teria tomado forma a partir da preocupação que ele tinha
com o crescimento do antiamericanismo na Europa Ocidental. Por isso, ele
articulou uma reunião internacional com líderes de países europeus e dos
Estados Unidos o mais rápido possível. O choque entre as culturas dos países
estaria em pauta. O primeiro que aceitou participar foi o Príncipe Bernard, da
Holanda, que também passou a ser um promotor da ideia, juntamente com o então
primeiro-ministro belga, Paul Van Zeeland.
Os membros convidados teriam de receber convite oriundo de
dois participantes de cada país, que deveriam apresentar pontos de vista
liberais e conservadores. Para que a reunião se repetisse com a peridiocidade desejada,
foi criado um comitê executivo, para o qual Retinger seria indicado secretário
permanente. Assim, começaram a ser registrados os nomes dos participantes, para
que uma rede informal de pessoas pudesse se comunicar, com privacidade. Muitos
enxergam nesse esquema uma espécie de sistema de relacionamentos nos moldes de
um Orkut, por exemplo, mas sem páginas na Internet, e realizado no mundo
físico, não no virtual.
Quando Retinger morreu, em 1960, o novo secretário
permanente foi o economista holandês Ernst van der Beugel. Nesse período, as
reuniões do Bilderberg tornaram-se uma espécie de linha direta entre os
governos dos países envolvidos. O Príncipe Bernard permaneceu como presidente
das conferências até o ano de 1976, quando, por se envolver num escândalo
político, não houve reunião.
No ano seguinte, entretanto, as reuniões voltaram a
acontecer; dessa vez com o ex-primeiro-ministro britânico Alec Douglas-Home na
presidência. Depois dele, ascenderiam ao cargo, pela ordem, o ex-presidente da
Alemanha, Walter Scheel; o ex-presidente do banco SG Warburg, Eric Roll; e o
ex-secretário geral da Otan, Lord Carrington.
Algo realmente curioso é que alguns jornalistas chegaram a
participar dessas reuniões; o que seria uma confirmação de que elas realmente
acontecem. Porém, eles só têm acesso ao local com a condição de que manterão
sigilo sobre os temas lá tratados. Um deles, o britânico Martin Wolf, afirmou
que não há absolutamente nada de suspeito nesses encontros. O ex-chanceler
britânico Denis Healey, um dos fundadores do grupo, afirmou em várias ocasiões
que não há nada de errado acontecendo por lá.
Porém, a falta de divulgação a respeito do teor desses
encontros, que alimenta a paranoia de grupos na Internet, leva a maioria das
pessoas a exigir satisfações.
A Sede
Supostamente, a sede da organização localiza-se na Holanda.
Porém, se alguém tentar entrar em contato, verá que mais parece uma empresa
fantasma, e não algo que deva ser levado a sério. Para começar, não há nenhum
tipo de funcionário à vista. O telefone é sempre atendido por uma secretária
eletrônica; que, claro, pede para "deixar recado".
A reclamação dos que desconfiam dos verdadeiros propósitos
do Bilderberg parece meio despropositada, pois há atas que registram o tal
conteúdo dos encontros. No entanto, os documentos não possuem nenhum tipo de
assinatura, o que nos leva a indagar: esses arquivos são originais, ou apenas
forjados? E nem adianta procurar na Internet: as únicas páginas encontradas
sobre o assunto resumem-se a resenhas do livro de Estulin.
A comissão Trilateral
(www.trilateral .org)
Um dos supostos desdobramentos do Bilderberg é a chamada
Comissão Trilateral, fundada em julho de 1973 por David Rockefeller; nome que,
por si mesmo, já é digno de nota. É o atual patriarca dessa família ainda
influente e poderosa.
Um ponto que merece destaque é o fato de a comissão ter, ao
contrário do Bilderberg, um site que pode ser acessado por qualquer pessoa.
Longe de parecer algo mórbido, a página da Internet mostra até um link para
afiliação. Afirma ainda que foi formada "por cidadãos privados da Europa,
Japão e América do Norte, para ajudar a pensar desafios em comum e lideranças
responsáveis por essas áreas industrializadas e democráticas".
O primeiro encontro para tratar de trabalhos aconteceu em
Tóquio, no Japão, em outubro de 1973. Dois anos depois, ocorreu a primeira
reunião com os grupos regionais em Kioto. Hoje, possui cerca de 350 membros
oriundos da Europa, Ásia, Oceania e América do Norte.
O site, inclusive, é bem aberto, a ponto de disponibilizar
aos interessados as recentes atividades do órgão, entre elas, os lugares e
datas nos quais se realizarão os encontros regionais e o geral; previsto para
ocorrer em Dublin, na Irlanda, em 2010.
As críticas feitas para a atuação desse grupo são as mesmas
do Bilderberg: o segredo de suas atividades e a recusa dos membros em falar
sobre as atividades em público, entre outras ressalvas. Vale lembrar que a
Comissão é tida como ligada ao Bilderberg, mas não há uma única menção a essa
suposta ligação no site oficial.
No primeiro ano e meio de sua existência, a Comissão
produziu cerca de seis relatórios, conhecidos como "Informativos do
Triângulo".
Tal atividade gerou o logotipo do grupo: três flechas que
convergem para um ponto no centro, formando um triângulo. Esses relatórios
serviram como diretrizes do desenvolvimento de seus planos, sendo empregados,
também, como uma espécie de canal-antena, com a finalidade de avaliar a opinião
do público.
Sobre a Comissão, temos este trecho de um artigo, publicado
originalmente no site Mídia Sem Máscaras:
"Gary Allen (famoso
jornalista conservador norte-americano), no lhe Rockefeller File, publicado em
1975, escreveu o seguinte: 'Se os documentos do Triângulo são indicativos de
algo, podemos dizer que existem quatro eixos principais no controle da economia
mundial.- o primeiro na direção de criar um sistema monetário mundial
renovado', algo já realizado; `o segundo, na direção da pilhagem dos nossos
recursos para uma ulterior radicalização das nações espoliadas', também já
conseguido, considerando que Rockefeller e companhia enviaram bilhões de
dólares em tecnologia americana à URSS e à China como requisito do futuro
Governo Mundial Único e seu monopólio; 'o terceiro, na direção de explorar a
crise energética para exercer um maior controle internacional', também já
conseguido, com o temor de escassez energética, os movimentos de defesa do meio
ambiente e a guerra do Iraque. O congressista Larry McDonald, em seu prólogo ao
livro de Gary Allen, escreveu: Esta é uma exposição concisa, e que provoca
calafrios, do que certamente foi a história mais importante do nosso tempo: a
ideia dos Rockefeller e seus aliados de criar um Governo Mundial único que
combine o supercapitalismo e o comunismo sob um mesmo teto, tudo sob o controle
deles ( ..) os Rockefeller e seus aliados passaram pelo menos 50 anos seguindo
um cuidadoso plano para controlar os EUA e o resto do mundo aumentando o seu
poder político através do seu poder econômico : "
A ideia para a criação da Comissão foi apresentada pela
primeira vez num encontro do Clube Bilderberg, realizado em Knokke, na Bélgica,
durante a primavera de 1972. Rockefeller havia acabado de ler Between Two Ages,
do professor Zbigniew Brzezinski, da Universidade de Columbia. A obra ecoava
pessoalmente com Rockeffeler, pois descrevia o conceito de que "as pessoas,
os governos e as economias de todas as nações devem servir às necessidades dos
bancos e das empresas multinacionais". Dois meses depois, em julho de
1972, Rockefeller, já membro do Clube Bilderberg e então presidente do CFR,
resolveu abrir sua casa em Pocantico Hills, próxima à cidade de Nova York, para
estabelecer o local dos primeiros encontros da Comissão Trilateral.
A diferença entre o Clube Bilderberg e a Comissão Trilateral
é que o primeiro é muito mais antigo, e limita sua afiliação aos membros da
Otan, que são os Estados Unidos, Europa Ocidental e Canadá. Hoje em dia, com a
ampliação tanto da União Europeia como da Otan, ex-membros do antigo Pacto de
Varsóvia já podem entrar para o Bilderberg. A Comissão nunca teve esse tipo de
restrição.
Porém, os propósitos de ambos os grupos continuam sendo
obscuros. Por mais que divulguem o conteúdo de suas reuniões, enquanto teimarem
em agir à surdina, sempre serão considerados sociedades secretas, ainda que não
pertençam à linha esotérica. Quem sabe, nesse exato momento, não estejam a
preparar o próximo passo para a dominação do mundo, mais próximos de realizar o
sonho de um governo mundial único...
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