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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sociedade Thule



É uma sociedade que começou secreta e se tornou discreta, devido a seus propósitos mistos, políticos e esotéricos. Tornou-se conhecida do grande público por meio de divulgação em mídias diversas, principalmente a literária e a cinematográfica. Antes que alguém se precipite, e diga que se trata do Priorado de Sião, peço calma.

Neste, nós nos concentraremos numa ordem cuja existência foi comprovada historicamente; não é nenhuma especulação, como a sociedade secreta preferida de Dan Brown e seus seguidores. Esse grupo floresceu, por assim dizer, no período anterior a um dos maiores conflitos da história humana, a II Guerra Mundial. Seu nome provoca calafrios nas pessoas, pois pode ter sido uma possível influência para a filosofia e a política de Adolf Hitler.

Um dos primeiros registros de que se tem notícia sobre suas atividades está num discurso gravado, que hoje integra o acervo do Arquivo Histórico de Munique, na Alemanha. São palavras proferidas não por Hitler, mas sim, pelo barão Rudolf von Sebottendorf, cujo verdadeiro nome era Adam Alfred Rudolf Glauer (1875-1945). Maçom e praticante de disciplinas esotéricas como meditação sufi, astrologia, numerologia e alquimia, ele foi o principal nome da 7hule Gesellschaft, cuja tradução seria Grupo de Estudos pela Antiguidade Alemã.

O discurso em questão foi proferido em 9 de novembro de 1918, dois dias antes de ser decretada a rendição da Alemanha na 1 Guerra Mundial; algo, naquela época, já tido como inevitável. O discurso de introdução foi feito por Walter Nauhaus, estudante de arte e veterano de guerra, homem possuidor de um carisma inegável. Feita a introdução, entra o barão, e o povo presente calou-se de imediato. O conteúdo do discurso deixava claro o tipo de pensamento que predominava na cabeça da figura mais importante da Thule:

"Nosso mundo ruiu. O puro sangue alemão foi derrotado pelo inimigo mortal: Judá. Conclamo todos a lutar. Nossa ordem égermânica. Nosso deus é Walvater e somos arianos. Se quisermos viver, devemos primeiro morrer."

Por mais estranho que esse trecho possa parecer para aqueles que possuem bom senso, estudá-lo é importante, pois começamos a entender o que será a grande influência da formação de Hitler. A capacidade que ele tinha de fazer discursos inflamados parece ter aqui uma origem bastante provável. A parte estranha é que quem conhece a história da II Guerra Mundial sabe que Hitler baniu as sociedades secretas do país.

Vamos, então, tentar analisar a coisa mais a fundo. Para os pesquisadores de sociedades secretas, principalmente os mais recentes, como a norte-americana Shelley Klein, autora de As Sociedades Secretas Mais Perversas da História, a Thule é a precursora do nazismo. Há várias lendas sobre como essa ordem teria começado, mas, para efeitos didáticos, vou me restringir a narrar o que se sabe, de fato, sobre como ela surgiu.

Origens
O grupo de Nauhaus, que por ser veterano de uerra era manco de uma perna, considerava-se uma espécie de guardião da genealogia estabelecida originalmente por outra sociedade secreta, chamada Germanenorden, ou Ordem Teutônica, fundada em 1911.

Nauhaus foi para Munique em 1917, e a Thule tornou-se um tipo de "nome de fantasia" para o que seria, na verdade, a filial de Munique da Germanenorden. No ano seguinte, ele foi contatado pelo barão, o recém-eleito líder de um grupo localizado na província da Bavária. Esse grupo, chamado Germanenorder Walvater do Santo Graal, era um dos mais influentes da região. Os dois ligaram-se numa campanha de recrutamento, e o grupo do barão adotou a Thule em 18 de agosto de 1918.

Sebottendorff, mais tarde, declarou que desejava, originalmente, que o grupo protegido fosse um veículo para promover suas teorias ocultistas. Aparentemente, seu próprio grupo o pressionou para dar ênfase aos temas políticos, nacionalistas e antissemitas.

Thule vem do grego Thoulé (no original (DoúÀq). Era o nome de uma ilha, ou região, identificada por geógrafos da Antiguidade como a mais distante e setentrional do mundo de então. Citações sobre essa terra também são encontradas em diversos documentos e mapas datados do início da Idade Média, que mostram grafias variadas, entre elas 7hile, Tile, Tilla, Toolee e Tylen. O explorador grego Píteas (380-310 a.C.) é tido como a primeira pessoa a citar essa terra, que, a princípio, parece ter uma descrição tão nebulosa quanto a da mítica Atlântida. Essa citação é encontrada na obra Sobre o Oceano, escrita após a realização de suas viagens exploratórias, realizadas entre os anos 330 e 320 a.C. Embora esse trabalho tenha sido perdido, sabe-se de sua existência graças a citações de geógrafos posteriores. Os dados levantados por Píteas foram colhidos numa época em que ele havia sido enviado pela colônia grega de Massalia (atual Marselha, na França) para pesquisar a origem de produtos lá comercializados.


Klein, em seu livro, explica que o nome teria sido retirado de uma antiga lenda nórdica que evocava a capital da Hiperbórea, outra terra mítica localizada nas proximidades da Groenlândia. Lá, teria vivido uma civilização superior, que, como sabe qualquer um que já tenha lido a respeito de nazismo e esoterismo, seriam os fabulosos arianos.

As reuniões
Um ponto que parece definitivo a respeito das tendências esotéricas da Thule era sua crença num deus chamado Walvater, identificado como Wotan, ou Odin, o rei dos deuses nórdicos. Nas reuniões, era comum que prestassem homenagem a esse deus. Nas palestras, os membros mais eruditos discorriam sobre as runas, definidas como um conjunto de alfabetos relacionados que empregam letras características, usadas em línguas germânicas, principalmente na Escandinávia e nas ilhas britânicas. Além disso, discorriam sobre mitologia indo-europeia, e faziam leituras de mapas astrológicos. Eles foram o primeiro grupo a adotar o símbolo que se tornaria, mais tarde, a representação do mal que Hitler espalhou pela terra: a suástica.

O lema da Thule, entretanto, não era nada esotérico: "Lembra-te de que tu és alemão. Mantenha o teu sangue puro". Entre eles, a concepção do conceito do arianismo, ou melhor, ariosofia, já se fazia presente.


Do lado de fora, qualquer um poderia dizer que a Thule não passava de um grupo de estudos de tradições germânicas. Porém, a ideologia antisemita já se fazia muito presente entre os conceitos e assuntos lá debatidos. Eles foram, essencialmente, inspirados pela lenda dos hiperbóreos, a nascente da raça ariana. A raça ariana teria:

"... uma origem remota da humanidade e da civilização no Norte, mais especificamente, da raça branca ou ariana, identificada com o mais puro fluxo de civilização."

Eles seriam a inspiração para os primeiros membros do partido nazista quando Hitler entrou para o partido, que teve o nome mudado para NSDAP (sigla em alemão para quando o termo nazista é incorporado em definitivo ao nome), supostamente o futuro führer teria se aproximado da Thule com intenções de transformá-la num braço político. Veja bem, trata-se apenas de uma especulação, pois, ao contrário do que afirmam, tais associações nunca foram totalmente provadas historicamente falando.

Além de Hitler, há outros nazistas famosos, como Alfred Rosenberg, conselheiro de Hitler, e Rudolph Ress, vice-líder do partido nazista e secretário particular de Hitler. O mais comentado pelas teorias que ligam a Thule ao nazismo, entretanto, é Heinrich Himmler, chefe das SS e da Gestapo, que, por si só, já teria certa "tradição esotérica", como podem atestar aqueles que puderam ver o Sol Negro, nome de um mosaico verde escuro encontrado no Castelo de Wewelsburg, perto da cidade de Paderborn, na Alemanha. O símbolo teria sido encomendado por Himmler, de acordo com a tradição de usar runas, como as que compõem o símbolo das SS. O desenho do Sol Negro, originalmente dourado, contém três suásticas, ou doze runas Sig invertidas. Tem esse nome porque, de fato, as condições de luz na sala na qual está o ornamento fazem parecer que ele é da cor negra.

Himmler parecia, inclusive, ter suas própria ideias esotéricas (ou algo semelhante a isso). Por exemplo, sob suas ordens soldados alemães tinham de trocar seus nomes cristãos por teutônicos. Ele também teria financiado uma expedição à Islândia, em busca do Santo Graal, e, em 1938, uma outra para o Tibete, para que seus cientistas encontrassem o homem ariano primordial. Entre suas ideias excêntricas está a de que os soldados deveriam cultivar a confiança uns nos outros já durante seu treinamento. Como? Simples: eles deveriam ensaboar uns aos outros durante o banho. Segundo o autor Dusty Sklar, em sua obra Gods and Beasts: lhe Nazis and the Occult, ele teria retirado essa ideia de Lanz von Liebenfels (1874-1954), ideólogo racista e um dos precursores do pensamento nazista. De acordo com esse esdrúxulo pensamento, a intimidade entre os homens tinha "poder tântrico e mágico".

Outro detalhe importante: cada membro da Thule, assim como os nazistas e seus cientistas fariam em vários projetos, anos depois, tinha de provar ter "sangue puro, sem influências semitas". Um caso registrado aconteceu em 1919: um jovem aristocrata chamado Anton von Padua Arco auf Valley não foi aceito apenas porque seu avô materno, apesar de ser um banqueiro, era judeu. Ansioso por mostrar que a Ordem estava errada, e com vontade de ir à desforra, ele assassinou um político socialista chamado Kurt Eisner, apenas para mostrar seu suposto valor à Thule. Lembrando que, embora as atrocidades com judeus sejam hoje as mais divulgadas, outros grupos, como socialistas, ciganos, empresários, capitalistas, eslavos e homossexuais, também foram perseguidos pela política nazista.

Declínio
Depois que Hitler proibiu as ordens iniciáticas, a Thule começou a definhar aos poucos. Hitler passou a atacá-la quando finalmente chegou ao poder, a ponto de, em 1926, não haver sinais de atividade do grupo. Para muitos, esse é um detalhe no mínimo estranho, já que o antissemitismo nazista estava a caminho de uma grande popularização. Alguns especulam que seus membros preferiram participar de organismos mais comuns e oficiais, como o próprio partido nazista.

Em 1923, Sebottendorff foi expulso da Alemanha. Por volta de 1925, a Sociedade Thule foi dissolvida. Em 1933, o barão voltou à Alemanha e publicou um livro que foi quase imediatamente banido pela polícia bávara em março de 1934. Ele foi preso pela Gestapo, internado num campo de concentração e expulso do país novamente. Dessa vez, ele foi para a Turquia, onde cometeu suicídio ao se afogar no Bósforo, em 9 de maio de 1945, quando os nazistas se renderam aos aliados.

Sobrevivência
A maioria dos pesquisadores de sociedades secretas confirma que a Thule, embora fascinante, nunca teve verdadeira influência, como a Maçonaria ou a Rosacruz. Os motivos pelos quais ela continua sendo estudada são relativos à investigação das verdadeiras influências do pensamento nazista. Num ponto todos concordam: direta ou indiretamente, a Thule manteve seu papel influente e, assim, garantiu seu lugar na história.

Um artigo elucidativo no site Sobrenatural diz:

"Em 1912 era fundada a Sociedade Thule à qual Hitler veio ter conhecimento, mas que nunca fez parte, adquirindo porém conhecimentos dessa ordem a partir de seu secretário e lugar-tenente Rudolf Hess (..). Os nazistas inverteram a posição da suástica, que veio representar o elemento terra - Malchut na Cabala, tendo assim o valor 666, o número da Besta. Mas em meio a tudo isso existia algo mais: haviam (sic) seitas tibetanas e sua magia. A 7hule e seus seguidores foram profundamente influenciados pela magia negra tibetana e tiveram mesmo contato com os bompos tibetanos de barrete negro na Alemanha. Estes teriam sido invocados para agir politicamente na Europa através de sua magia tântrica. "

Com tantos conhecimentos esotéricos nas mãos, com certeza a sociedade poderia ter tido melhores resultados. Porém, como a maioria dos assuntos na área esotérica, tudo não passa de especulação. Se a Thule realmente era aplicada ao esoterismo, ou se usou isso apenas como fachada para suas ideias racistas, jamais saberemos ao certo.

Para quem quer se inteirar mais, basta lembrar que hoje há grupos que se apresentam com o mesmo nome, inclusive no Brasil, embora estejam mais ligados a estudos de tradição nórdica, como o druidismo odinista, ou a Asatru. O texto seguinte foi retirado do site do grupo no Brasil:

                  A 7hule é uma sociedade iniciática, portanto secreta e fechada, todos que buscarem nela entrar serão submetidos a testes de aprovação e a apreciação dos demais membros. A Sociedade Thule (sic) promove a expansão das antigas e tradicionais religiões europeias, tais como o Druidismo (não wicca), o Wotanismo, a Asatru, a Vanatru, o Woragsmo e as vertentes atuais chamadas de Druidismo Odinista (exclusivo para América do Sul e Central) ou Druidismo Wotanista (exclusivo para América do Norte). A Sociedade 7hule por opção não terá envolvimento político-ideológico em terras brasileiras, mas manterá sua tradicional postura pró-nacionalista, visando disseminar a cultura eurobrasileira, religião, valores e tradições. Onde a verdade esteja sempre acima de tudo e a luz do mundo real possa despertar as pessoas da escuridão e assim possam construir um país melhor em todos os sentidos, uma sociedade mais justa, mais patriótica, mais verdadeira e mais evoluída. Restaurando o orgulho próprio e de seus antepassados, que derramaram sangue para que todos possamos existir hoje. "


Se esse grupo será uma espécie de recomeço, ou se possui laços com seu antepassado histórico, apenas o tempo poderá responder.


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