O problema maior é tentar acabar com certas ideias, que ainda persistem no imaginário popular. Durante todos os anos nos quais me dediquei a pesquisar o assunto, encontrei as perguntas mais absurdas possíveis. Dentre elas, as mais memoráveis eram se rosacruzes produziam múmias, maçons bebiam sangue, templários eram exorcizados, e até mesmo se determinados membros das sociedades Thule e Skull and Bones poderiam misturar-se a nós, e nos controlar mentalmente.
São opiniões como essas que transformam as sociedades secretas em um assunto que beira o tabu. Tem tanta bobagem por aí que as pessoas passam a acreditar nelas como se fossem verdades incontestáveis. O Majestic 12 não foi provado como existente, os xamãs não violentam mulheres durante os sonhos, e o Priorado de Sião não guarda a linhagem de Jesus.
No entanto, se você está atrás de uma boa introdução ao assunto, está no lugar certo. Aqui, a palavra de ordem é uma só: desmistificação. Seja bem-vindo ao obscuro mundo das sociedades secretas. Nesse pequeno artigo apresentaremos algumas verdades sobre a Marçonaria.
Hoje, com a publicação maciça de livros sobre o tema e com o advento da Internet - com sites que supostamente tratam do assunto, mas deixam claras suas opiniões tendenciosas -, o público se acostumou a chamar esses grupos de sociedades secretas, embora muitos hoje saibam quem eles são e até mesmo o que fazem. Por isso, vários pesquisadores consideram essas sociedades como "discretas", ou seja, elas existem e cuidam de seus assuntos, mas o acesso a seu núcleo continua restrito.
Estudar o tema, contudo, não se torna mais fácil. Pela própria aura que envolve a questão, a imagem que a maioria das pessoas tem é a de que as sociedades secretas são, em grande parte, compostas por grupos esotéricos. Muitos se esquecem de que um grupo desses pode ter uma finalidade prioritariamente política (como a Carbonária, por exemplo), ou mesmo criminosa (como a Máfia, ou a Ku Klux Klan).
Porém, ninguém pode negar que o rótulo "sociedades secretas" está um pouco defasado. Não que elas não existam nos dias de hoje (afinal, alguém deve saber definir o que vem a ser o Clube Bilderberg, ou qual o propósito dos Skull and Bones). O que acontece é que hoje, com o assunto permanentemente na mídia, seja por meio de notícias ou de documentários na TV paga, todos sabem que existem grupos como Templários, Maçonaria, Rosacruz ou Teosofia.
Ainda há o perigo de que as pessoas que estudam o assunto de maneira séria caiam no campo da teoria da conspiração. Basta observar os nomes do cenário político moderno e perceberemos algumas coincidências, como o fato de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ser maçom, ou do presidente norte-americano George W. Bush pertencer à Skull and Bones. E se nos concentrarmos na parte histórica, descobriremos mais associações famosas. Somente na Maçonaria temos nomes como o músico de jazz Louis Armstrong, o cineasta Walt Disney e até o ator de cinema Douglas Fairbanks, todos norte-americanos. Já a Rosacruz possui nomes como o do filósofo italiano Giordano Bruno, do escritor francês Victor Hugo e até o profeta Nostradamus. É claro que confirmar tais associações é mais complicado, pois o acesso aos registros de certas ordens é fechado ao público. Não é de se admirar que os rosacruzes originais do século XVII eram conhecidos como Os Invisíveis, já que todos sabiam da existência da ordem, mas ninguém podia apontar seus integrantes.
No entanto, outro ponto igualmente polêmico é a verdadeira razão para que essas sociedades sejam secretas. Muitos argumentam que o fato de vários participantes pagarem uma espécie de mensalidade, como acontece na Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC), ou na própria Maçonaria, retiraria de uma ordem a dedicação ao autoconhecimento. Tal aspecto de aprendizado não deveria ser cobrado; sem contar que alguém que já passou pela iniciação deveria ter livre acesso aos níveis de ensinamento.
Uma boa visita a alguns sites da Internet já esclarece muita coisa. No setor esotérico, não são poucas as páginas dedicadas a insultar o trabalho dessas ordens. A maioria desses sites é mantida por entidades ligadas a setores mais conservadores de igrejas como a católica e a evangélica. Numa dessas páginas, numa lista de maçons famosos, os autores não hesitaram a incluir o próprio Satã como "maçom principal".
Se pensarmos bem, não é qualquer pessoa que está pronta a receber certos ensinamentos. Por exemplo, quando a descoberta do Evangelho de Judas foi divulgada, milhares de religiosos do tipo "radical" entraram em ação e mandaram cartas para revistas, sites e até programas da TV paga para "pedir que não acreditassem nessa mentira". Quando uma pessoa entra para uma sociedade secreta, ela aprende, acima de tudo, a respeitar um documento histórico sem o ponto de vista fanático-religioso, o que pode ajudar em sua maior compreensão. Com certeza, para os mais fanáticos, nada, a não ser o que está nos evangelhos canônicos, pode ser considerado.
MAÇONARIA
Se sairmos às ruas para perguntar qual sociedade secreta as pessoas mais conhecem, a grande maioria responderá que é a Maçonaria. Muita gente já ouviu falar nesse grupo por diversas razões diferentes: por ser constituído só por homens, pelo fato de as pessoas só entrarem com convite, por seus componentes terem certa influência social ou econômica, ou mesmo pelas histórias fantasiosas a respeito de seus rituais de iniciação.
A verdade é que a Maçonaria é um dos grupos que podemos chamar de sociedade discreta, pois a maioria sabe de sua existência, a literatura publicada sobre o assunto é vasta e fácil de ser encontrada e, ainda por cima, seus componentes admitem suas afiliações. É fácil reconhecer quando um maçom está na ativa, pois há sempre entre seus pertences o famoso símbolo do compasso e do esquadro com a letra G no meio. Esse símbolo pode ser qualquer coisa, de um simples par de abotoadu ras a um broche colocado no painel do carro, de um enfeite de mesa de escritório a um quadro colocado em algum lugar da casa do maçom.
O nome "Maçonaria" tem duas origens possíveis. Uma é a palavra francesa maçonnerie, enquanto a segunda é a palavra inglesa masonry, sendo que ambas significam construção. A origem histórica mais aceita é que esse grupo teria surgido a partir das antigas guildas de pedreiros e construtores medievais, que guardavam os segredos de sua profissão a sete chaves, e só os passavam para aqueles que eram aceitos como iguais. Esses construtores, por serem os principais responsáveis pelas belas catedrais espalhadas pelo continente europeu, de fato eram um grupo muito fechado e, por produzirem verdadeiras maravilhas arquitetônicas e terem o controle sobre os materiais usados para erigirem tais edifícios, eram considerados detentores de segredos.
Os três primeiros graus, de conhecimento público, e que têm a permissão dos próprios maçons para que sejam discutidos em público, guardam muita semelhança com os jargões dos pedreiros: Aprendiz (grau 1), Companheiro (grau 2) e Mestre (grau 3). Não importa qual rito a Loja Maçônica siga para realizar seus trabalhos, esses três são constantes para todos. Isso acontece, segundo uma das explicações, porque na Idade Média havia dois tipos de pedreiros: o pedreiro bruto (conhecido como rough mason), que trabalhava a pedra sem tirar sua forma ou dar polimento, e o pedreiro livre (free mason), que sabia como extrair daquela pedra bruta uma forma agradável e apresentável, para embelezar a construção.
A ideia pregada pela Maçonaria atual é exatamente a mesma, mas com a diferença de que o grupo teria abandonado suas atividades práticas (ou seja, as práticas da Maçonaria operativa) e se tornado uma entidade de cunho espiritual (conhecida como Maçonaria Especulativa). A pedra, nesse caso, torna-se a alma humana, que deverá ser desbaratada à medida que o maçom sobe de grau e recebe mais conhecimento, a ponto de assumir seu lugar de direito na construção dos maçons, a grande catedral composta pelas almas humanas esclarecidas. A construção, numa explicação análoga, estaria sob supervisão dos maçons de graus mais elevados, sendo que todos responderiam ao Grande Arquiteto do Universo, ou seja, Deus, representado pela letra G, que se posiciona, no brasão da ordem, entre os símbolos do esquadro e do compasso. palavra Deus inicia-se em vários idiomas: GAS em siríaco, GADA em persa, GUD em sueco, GOTTem alemão, GOD em inglês, entre outras.
Falar sobre as origens da Maçonaria é uma tarefa ingrata. Qualquer um que se prestar a mergulhar nas diversas leituras sobre o assunto acabará com um verdadeiro nó na cabeça. Isso porque há muitas lendas que correm a respeito do assunto, e algumas delas chegam a afirmar coisas que, para os neófitos (ou não-iniciados), beiram o absurdo, como dizer que figuras históricas como Alexandre, o Grande, Júlio César e Ricardo Coração de Leão, além de algumas míticas, como o Rei Arthur, Noé, Moisés e até Jesus Cristo foram maçons.
O mais estranho de tudo é que, dependendo da pessoa com quem se conversa, descobrimos que há quem acredite nessas lendas. Uma delas, citada por maçons respeitáveis como Rizzardo da Camino e Joaquim Gervásio Figueiredo, afirma que a Maçonaria já existia antes mesmo da Criação do Mundo, e que havia uma Loja Maçônica em atividade no jardim do Éden.
Há ainda uma outra versão para o nome Maçonaria, mas mais difícil de ser verificada. Esta afirma que a palavra é de origem mais antiga, e vem do copta (língua que floresceu por volta do século 111 no Egito Antigo) Phree Messen, que significa filhos da luz.
DESENVOLVIMENTO DA MAÇONARIA MODERNA
Nos primeiros tempos, a Maçonaria reunia várias profissões, com predominância para a dos pedreiros. Como conservavam a influência da Igreja, cada profissão elegia seu padroeiro. Para os maçons, foram escolhidos dois: São João Batista e São João Evangelista, com posterior fixação em São João da Escócia. Depois disso, foram adotados sinais e palavras de passe que refletiam as influências cristãs da época.
A Inglaterra merece uma atenção especial porque foi lá que se agruparam os profissionais mais habilitados de toda a Europa, onde se intensificaram os trabalhos da Maçonaria Operativa. Na Eu ropa, os maçons operativos foram incentivados por reis ávidos em construir as magníficas obras que surgiram na França e na Itália. Começaram então a surgir as Lojas, até que no ano 926 instalou-se a Grande Loja de York, sob a direção do Grão-mestre Príncipe Edwin. Nascia, portanto, a primeira potência maçônica com adequada hierarquia, para o exercício do poder. Vários príncipes e a nata da sociedade inglesa se fizeram iniciar nas Lojas de sua jurisdição; surge então a primeira Loja maçônica cercada de privilégios, quase idênticos aos da Família Real. O próprio Rei Athelstan, pai de Edwin, e os papas não ocultavam o seu interesse protetor. "
Os tempos eram outros, e pertencer a uma ordem como a Maçonaria era encarado por diversos membros da nobreza como sinal de prestígio. Não era para menos: os responsáveis pela construção daquelas fantásticas obras de arte que eram as catedrais eram tidos como "as pessoas mais inteligentes do mundo", e, como tal, eram os formadores de opinião, aqueles que todos queriam ter como amigos. Logo a Loja de York criou seus próprios códigos e constituição, distribuindo-os às demais Lojas da Europa.
Em 1439, os maçons buscam a proteção do rei James II e, em 1542, de James V. É quando a Maçonaria começa a se afastar da Igreja "por entender que ela não agia como verdadeira religião". Com o fim das Cruzadas, as Lojas começaram a se multiplicar rapidamente em países como a Escócia, e voltam para o território inglês. Sua dissipa ção é tão forte que o rei manda buscar maçons italianos para juntá-los aos irmãos dos países.
É quando a Maçonaria começa a aceitar membros que não pertenciam às associações de artesãos e começa a se inclinar para o chamado "campo especulativo", ou seja, sai do campo material (construção de edifícios) para se concentrar no campo espiritual ("edificações espirituais").
A Grande Loja de Londres surge pouco tempo depois, como união de quatro Lojas (The Goose and Gridiron, lhe Crow, lhe Apple Tree e lhe Rummer and Grapes). O Grão-mestre é Anthony Sayer, que foi seguido por George Payne, responsável por ter sido o primeiro a juntar toda a documentação existente sobre a ordem e formar o primeiro regulamento, impresso em 1721. Dois anos depois, surge a primeira constituição da Maçonaria Especulativa, produzida pelo pastor evangélico James Anderson.
Acontece, por fim, uma cisão entre os seguidores das obrigações antigas e das, então, atuais. Quem não era a favor da nova constituição une-se para a fundação, em 1753, da Grande Loja dos Maçons Francos e Aceitos, situação que perdurou até 1813, quando houve uma reconciliação e uma fusão entre os dois grupos para a constituição da Grande Loja Unida dos Antigos Franco-Maçons da Inglaterra.
É necessário conhecer esses detalhes por um único motivo: muito do que se conhece hoje como a Maçonaria Especulativa mundial partiu dessas Lojas europeias. Para se ter uma ideia, há ainda hoje um grupo ligado à Maçonaria nacional que estuda atentamente os chamados Doze Pontos Originais da Maçonaria, formadores da base do sistema maçônico, marcando a cerimônia de iniciação. Vale lembrar que, teoricamente, sem a existência desses pontos, nenhum homem poderia ter sido legalmente aceito na ordem. Um texto sobre o assunto, de autoria de um maçom de Santa Catarina, que circula em listas de discussão maçônicas, diz que "toda pessoa que se tornou um maçom deve estudar essas doze formas da cerimônia, não somente no primeiro Grau, mas em cada um dos posteriores".
A iniciação era dividida em 12 partes, que simbolizavam as tribos de Israel. Eis os 12 pontos, segundo o texto:
•Primeira parte: a abertura da Loja era simbolizada pela tribo de Rubem, o primogênito de Jacó, que o chamava "o princípio de sua energia". Por conseguinte, era devidamente apropriada e adaptada como emblema dessa cerimônia, que é essencialmente o começo de toda iniciação.
•Segunda parte: a preparação do candidato era simbolizada pela tribo de Simeão, porque ele preparou os instrumentos de guerra para a luta com os Siquemitas; nessa parte da cerimônia são descritas essas armas. Era praticada como sinal de repulsa pela crueldade implacável que resultou desse incidente.
•Terceira parte: a informação fornecida refere-se à tribo de Levi, porque na guerra com os Siquemitas supõe-se que foi ele que deu o sinal de aviso a Simeão, seu irmão, com quem havia combinado de lutar contra esse povo.
•Quarta parte: a entrada do candidato na Loja simbolizava a tribo de Judá, a primeira a cruzar o rio Jordão e a penetrar na Terra Prometida. Eles saíram de um lugar de servidão e ignorância, assim como de solidão (o deserto por onde passaram) e agora, em Canaã, eles teriam luz e liberdade.
•Quinta parte: a invocação era simbolizada pela tribo de Zebulão. Jacó proporcionou a oração e a bênção a ele, e não a seu irmão, Issacar.
•Sexta parte: as viagens referem-se à tribo de Issacar, que, considerada indolente e inútil, necessitava de um diretor supremo como guia que a elevasse à mesma altura das outras tribos.
•Sétima parte: o avanço até o altar era simbolizado pela tribo de Daniel, para nos demonstrar, por oposição, que devemos avançar até a verdade e santidade rapidamente, e não fazer como essa tribo, que se lançou à idolatria, e cujo objeto de veneração era a serpente de cobre.
•Oitava parte: a obrigação refere-se à tribo de Gad, e diz respeito ao juramento solene feito por Jephthah, juiz de Israel, que pertencia a essa tribo.
•Nona parte: a confidência dos mistérios feita ao candidato era simbolizada pela tribo de Asher, porque era ele quem, então, recebia os ricos frutos do conhecimento maçônico, assim como Asher se dizia o herdeiro da fartura e dos esplendores reais.
•Décima parte: a investidura com a pele de cordeiro, o avental, pelo qual se declarava o candidato livre, refere-se à tribo de Neftali, investida por Moisés com uma liberdade singular, quando disse: "Oh! Neftali, recebei os benefícios, pois o Senhor os tem coberto com seus favores, e possuis, portanto, o Ocidente e o Sul".
•Décima primeira parte: a cerimônia do ângulo Nordeste da Loja refere-se a José, porque essa cerimônia nos recorda a parte mais rudimentar da Maçonaria, e também pelo motivo de que as duas metades das tribos Efraim e Manassés, das quais foi formada a tribo de José, são consideradas mais rudimentares que as demais.
•Décima segunda parte: o encerramento da Loja era simbolizado pela tribo de Benjamim, o filho caçula de Jacó, último feixe de sua energia.
MAÇONARIA NA HISTORIA DO BRASIL.
•um reconhecimento implícito da Universalidade da Verdade acima de toda opinião, crença ou convicção;
•a necessidade de obedecer a lei moral, como característica e condição sine qua non da qualidade de maçons;
•a prática da tolerância em matéria de crenças, opiniões e convicções;
•o respeito, o reconhecimento e a obediência às autoridades constituídas, desaprovando-se toda forma de insurreição ou rebeldia, ainda que isso não seja considerado um crime que mereça a expulsão da Loja;
•a necessidade de fazer nas Lojas um trabalho construtivo, buscando o que une os Irmãos e fugindo daquilo que os dividem;
•a prática de uma fraternidade sincera e efetiva, sem distinção de raça, nacionalidade e religião, deixando fora das Lojas todas as lutas, questões ou diferenças pessoais;
•considerar e julgar os homens por suas qualidades interiores, espirituais, intelectuais e morais, muito mais que pelas distinções exteriores da raça, posição social, nascimento e fortuna.